O antigo Clube de Leitura em Voz Alta deu lugar ao Coro de Leitura em Voz Alta. Tem normalmente um periodicidade quinzenal e acontece na Biblioteca de Alcochete.

Os objectivos continuam a ser os mesmos; promover o prazer da leitura partilhada; a forma passou a ser outra.

Ilusão 2


Hoje começámos por falar do "Como um romance" de Daniel Pennac para além d

"O homem que lê em voz alta expõe-se em absoluto. Se ele não sabe o que está a ler, é ignorante no que diz, é uma lástima e isso ouve-se. Se se recusa a habitar a sua leitura, as palavras mantêm-se mortas, e isso sente-se. Se inunda o texto com a sua presença, o autor retrai-se, e nada mais resta do que um número de circo, e isso vê-se. O homem que lê em voz alta expõe-se totalmente aos olhos que o escutam."



Seguindamente foram feitas algumas sugestões:

a formação  Coro de Leitores , por Rodolfo Castro

e o encontro Maré de Palavras – Animar a Leitura Promovendo o Livro


Depois de uma série de exercícios de respiração entrámos nas leituras do dia

e foi a Luísa que começou pelo livro do dia
"O navio branco" de Tchinguiz Aitmatov
depois iniciámos as leituras subordinadas ao tema da sessão: "Ilusão"

não foi a primeira vez que abordámos o tema
da outra vez foi assim

a Teresa leu de Manuel António Pina

Matéria de estrelas

Porque é tudo para sempre, mesmo a efémera morte,
encontrar-nos-emos eternamente
e nunca mais nos veremos.
O impossível volta a ser impossível. Para sempre.

Impossível é cada manhã aberta,
um deus sonha consigo através de nós.
Às vezes quase posso tocá-lo, ao deus,
surpreendê-lo no seu sono, também ele real e efémero.

Matéria, alma do nada,
os mortos ouvem a tua música sólida
pela primeira vez, como uma respiração de estrelas.
A sua intranquilidade transforma-se em si mesma, música.

de "Todas as Palavras - Poesia reunida"


a Maria Teresa leu de Teolinda Gersão

Excerto do conto "A defunta"
(…)
Como era desembaraçada e com sentido de humor, em vida costumava dizer que não se preocupassem com ela, estava bem e recomendava-se, estivessem descansados que três dias antes de morrer avisaria. Afinal não avisou, mas a verdade é que as coisas aconteceram como se ela as tivesse organizado, como costumava fazer em relação a tudo:
Faleceu num sábado, quando as pessoas da família estavam em casa e era fácil avisá-las, e o enterro realizou-se no domingo, quando todos podiam deslocar-se sem faltar aos empregos nem atrapalhar demasiado as suas vidas. (…)
Um bom número de familiares chegou de manhã, outros um pouco depois, mas de qualquer modo antes do almoço, que alguns foram comer a um restaurante conhecido, a dois ou três quilómetros dali. Outros preferiram não almoçar, houve quem se contentasse com um prego ou um cachorro quente, e houve também quem não comesse, embora fosse óbvio que o jejum não tirava nem acrescentava nada à situação.
Mas à hora da missa, que era às três da tarde, toda a gente estava reunida, dentro e fora da igreja, a que mais se deveria chamar capela, porque era demasiado pequena para albergar tantas pessoas. Felizmente, tinham instalado, junto ao sino, um altifalante que permitia ouvir perfeitamente tudo o que se passava lá dentro.
Todos puderam, assim, escutar a longa homilia em que o padre enalteceu as qualidades da defunta e confortou a família enlutada. (…) Até que a missa terminou com a comunhão e a bênção, e se seguiu a encomendação das almas.
Isso foi, naturalmente, antes de o caixão ser fechado e selado e de já não ser mais possível olhar a defunta – que parecia muito aprumada e compenetrada, vestida de preto, como se não tivesse a menor dificuldade em se adaptar àquele papel, embora antes nunca o tivesse experimentado. Mas ela sempre assim fora – facilmente se adaptava, e aprecia sempre estar à altura, em todas as situações.
Então, começaram a sair da igreja os primeiros, a irmandade de Nossa Senhora, com uma opa azul celeste, depois a família e outras pessoas carregando ramos e coroas de flores. A seguir, antes do grosso do povo, saiu o caixão, carregado por dois filhos e dois netos, cada um segurando numa pega dourada, os netos nas da frente, onde era preciso fazer mais força, os filhos, com falta de cabelo e já grisalhos, segurando as pegas de trás.
e eis que o Tomás fez de defunta
Quem estava lá fora teve de repente a ilusão de que a defunta, em pessoa, caminhava à frente do caixão, pequenina e mirrada, mas segura de si, repuxando o xaile de lã e compondo o lenço em volta da cabeça.
Mas logo se percebeu que não era a defunta, mas uma sua comadre, da mesma idade e igualzinha a ela. A ilusão iria repetir-se, depois, no cemitério: várias pessoas julgaram ver a defunta caminhar convictamente por entre as campas, amparada à bengala. No entanto, em todos os casos, se verificou tratar-se de uma das comadres – havia várias, e eram todas iguais, portanto fáceis de confundir.

de "Histórias de Ver e Andar"


a Maria leu um excerto do conto "A ilusão na morte" de Afonso Ribeiro


a Alexandra mostrou-nos "Ah!" de Josse Goffin


a Gabriela leu um excerto de "Ilusão do saber - Os segredos da mente" de Massimo Piattelli-Palmarini


a Gabriela leu um excerto de "A mulher louca" de Juan José Millás


a Ana leu um excerto de "Horizonte perdido" de James Hilton


o Luís leu um excerto de "D. Quixote de la Mancha" de Miguel de Cervantes
e foi divertido ;)



o Renato leu excertos de "Middlemarch - Um estudo da Vida de Província" de George Eliot


a Teresa leu de Florbela Espanca

Perdi os Meus Fantásticos Castelos

Perdi meus fantásticos castelos
Como névoa distante que se esfuma...
Quis vencer, quis lutar, quis defendê-los:
Quebrei as minhas lanças uma a uma!

Perdi minhas galeras entre os gelos
Que se afundaram sobre um mar de bruma...
- Tantos escolhos! Quem podia vê-los? –
Deitei-me ao mar e não salvei nenhuma!

Perdi a minha taça, o meu anel,
A minha cota de aço, o meu corcel,
Perdi meu elmo de ouro e pedrarias...

Sobem-me aos lábios súplicas estranhas...
Sobre o meu coração pesam montanhas...
Olho assombrada as minhas mãos vazias...

de "A Mensageira das Violetas"


o Bruno leu de Ruy Belo

Algumas Proposições com Crianças

A criança está completamente imersa na infância
a criança não sabe que há-de fazer da infância
a criança coincide com a infância
a criança deixa-se invadir pela infância como pelo sono
deixa cair a cabeça e voga na infância
a criança mergulha na infância como no mar
a infância é o elemento da criança como a água
é o elemento próprio do peixe
a criança não sabe que pertence à terra
a sabedoria da criança é não saber que morre
a criança morre na adolescência
Se foste criança diz-me a cor do teu país
Eu te digo que o meu era da cor do bibe
e tinha o tamanho de um pau de giz
Naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez
Ainda hoje trago os cheiros no nariz
Senhor que a minha vida seja permitir a infância
embora nunca mais eu saiba como ela se diz

Ruy Belo de "Homem de palavra (s)"


a Margarida leu um excerto de "Kafka à beira-mar" de Haruki Murakami


a Luísa leu de Sophia de Mello Breyner Andresen
Fundo do mar   

No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Mundo silencioso que não atinge
A agitação das ondas.
Abrem-se rindo conchas redondas,
Baloiça o cavalo-marinho.
Um polvo avança
No desalinho
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Sem ruído vibram os espaços.

Sobre a areia o tempo poisa
Leve como um lenço.

Mas por mais bela que seja cada coisa
Tem um monstro em si suspenso.

de "Obra Poética"



a Cristina leu um excerto de "Ilusão (ou o que quiserem)" de Luísa Costa Gomes


o Fernando leu um excerto de "Pleno emprego" de Miguel Cardoso


a Ilda não pôde estar presente mas enviou-nos o seu contributo que pode ser ouvido aqui em baixo
Excertos do livro XI "Confissões" de Santo Agostinho





e no final houve 'Boleima'

aqui fica de novo a receita:

Ingredientes:
4 chávenas de farinha
1 chávena de leite
1 chávena de óleo
1 colher de chá de sal
maçãs
açúcar amarelo
canela
manteiga

Confecção
Amasse bem a farinha com o leite, o óleo e o sal.
Depois de bem amassada, divida a massa em duas. Estenda uma parte e forre o tabuleiro (untado com manteiga e polvilhado com farinha).
Polvilhe a massa com canela e açúcar amarelo e, por cima, coloque a maçã cortada em lâminas. Volte a polvilhar com canela e açucar.
Coloque por cima da maçã a outra parte da massa e volte a polvilhar com açúcar e canela.
Corte a boleima em quadrados, antes de ir ao forno a 180º, durante 25min.

1 comentário: